3 de abril de 2011

As Raízes da Violência

“Lança teu fardo sobre o Senhor, e Ele te susterá, jamais permitirá que o justo seja abalado” (Salmo 55: 22).




As explosões nucleares em Hiroshima e Nagasaki e a destruição das Torres Gêmeas continuam sendo exemplos significativos de violência. Contudo, a violência não se limita somente à guerra e ao terrorismo. Pelo contrário, a violência permeia toda a natureza das relações humanas e se manifesta em todas as formas de abuso, muitas vezes não tão evidentes.



João era uma pessoa muito gentil e educada. Sua conversa era agradável e sua presença impunha respeito. Freqüentava a igreja regularmente e ajudava em suas atividades. Lembro-me que ele se importava profundamente com o decoro e a reverência na adoração. No entanto, um dia eu vim a saber que João batia em sua mulher que estava grávida. Algo profundo no coração de João o levava a abusar violentamente de sua esposa.



A Bíblia reconhece a existência e condena o comportamento violento em todas as áreas da atividade humana, como, por exemplo, a política (Ez 45:9), o casamento (Malaquias 2:16), a religião (Ezequiel 34:4, Sofonias 3:4, Mateus 11:12), e o meio ambiente (Habacuque 2:8). Uma vez que a maioria das pessoas experimentará ou causará alguma ou várias formas de violência durante sua vida, devemos nos perguntar: Como podemos nos livrar da força destrutiva da violência? Para responder a essa pergunta, precisamos familiarizar-nos com a sua natureza.

O que é a Violência?

Violência é o uso da força física ou verbal, que prejudica ou destrói algo ou alguém para satisfazer um desejo pessoal. Ignorando o modo regular do proceder e os cânones da razão e da justiça, a violência busca vencer a vontade das pessoas, a fim de dominá-las, usá-las, fazê-las sofrer, ou destruí-las. Em suma, a violência destrói o ser humano, espiritualmente e fisicamente.


Usamos a violência para dominar e manipular a outros seres humanos, a fim de satisfazer os nossos desejos. A violência ocorre quando buscamos satisfazer os nossos maus desejos (matar ou possuir o que pertence a outra pessoa) ou quando não podemos controlar os nossos bons desejos (comer, dormir, procriar). Quando os desejos incontroláveis, se tornam hábitos, geram comportamentos abusivos que levam a prejudicar não apenas nossos inimigos, mas nossos amigos, entes queridos e até a nós mesmos.

A violência está intimamente ligada à inimizade, porque o agressor é um inimigo de quem oprime e abusa. Ninguém gosta de ter inimigos ou ser submetido a violência. Como o rei Davi, todos gritam “salva-me das mãos dos meus inimigos” (Salmo 31:15).


Isso levanta a questão: Como podemos nos libertar da violência de nossos inimigos? E mais importante, como podemos deixar de ser fontes de violência e hostilidade? Para responder a essas perguntas, precisamos nos familiarizar com as manifestações da violência.


Manifestações da Violência

A violência que o ser humano gera contra seus semelhantes inclui atividades como a guerra, o assassinato, a tortura, o estupro, a pedofilia, abuso dos mais fracos (crianças, mulheres e idosos), o furto, a mentira, as brigas, fofocas e coisas do género. Essas atividades podem ocorrer em diferentes níveis de intensidade, como por exemplo, o abuso mental, o abuso físico casual, a tortura e o assassinato.

Porque a natureza destrutiva da violência é evidente, a sociedade é controlada por todos os meios necessários, incluindo os sistemas jurídico, de segurança, militares, prisões, educacionais e de aconselhamento. Apesar desses esforços e seus custos milionários diminuirem os efeitos destrutivos da violência, eles não a eliminam, porque não alcançam as profundas raízes que a originam.

De Onde vêm a Violência?

A violência ocorre através de ações e palavras que procedem do coração, o centro espiritual consciente de nossos pensamentos (Salmo 10:6, 11). Com elas, podemos abençoar ou amaldiçoar (Tiago 3:10). Quando o coração é orgulhoso, se afasta de Deus, e é ruim, torna-se uma fonte de violência (Salmo 119:122, Provérbios 10:11, Gênesis 08:21, Provérbios 24:2). Porque a violência se origina da maldade do coração (Romanos 3:10-23), todos podemos gerar atos e palavras violentas mesmo involuntariamente. É importante notar que, enquanto a maldade do coração é permanente, os atos e palavras violentas ocorrem esporadicamente.

O coração é mau quando nós acreditamos que devemos remover todos os obstáculos para cumprir os nossos desejos e aspirações.Desta atitude do coração humano, consciente ou inconscientemente, que se originam os atos violentos que ferem, oprimem, abusam e matam milhões de seres humanos.

Além da Violência: Amor e paz

Como vimos, a sociedade, e a Bíblia condenam a violência. No entanto, enquanto a sociedade tenta prevenir ou punir os atos de violência, a Bíblia considera as raízes de onde vêm tais atos: O coração mau que busca seus próprios interesses. Em resumo, as raízes da violência são espirituais e residem nas profundezas do coração humano, de onde simultaneamente são gerados os pensamentos, emoções, desejos e vontade. Quando o espírito humano deseja satisfazer-se a todo custo, gera atos violentos.

A Bíblia ensina que buscar “meus próprios interesses” é a antítese do amor (1 Coríntios 13:4-6). Quando amamos, em vez de usar, machucar, ferir ou matar, damos de nós mesmos aos outros seres humanos (Jo 3:16). O amor supera e substitui a violência com a paz e o serviço. A encarnação e a morte de Cristo na cruz é e será sempre a expressão suprema do amor no universo. Com estes pensamentos em mente surge uma velha questão: Podemos mudar o nosso coração egoísta em um coração amoroso? Tanto a experiência como a Bíblia ensinam que não o podemos fazer. Contudo, a Bíblia também ensina que Cristo pode mudar os nossos corações.


A Erradicação da Violência

Para erradicar a violência de nossas ações, devemos mudar o móvel central e a tendência dos nossos corações do egoísmo para o amor. Nossos pensamentos, emoções, desejos e decisões devem parar de se concentrar em nós mesmos e centrarem-se em Deus e Sua Palavra. Além disso, o conteúdo consciente de nossos pensamentos, emoções, desejos e decisões têm de mudar.

Esta mudança não é produzida por um ato sobrenatural de Deus, mas através do conhecimento de Cristo revelado nas Escrituras. Quando contemplamos a sabedoria, a misericórdia, o amor, as promessas e o poder de Deus, o coração é atraído pela beleza e santidade divina. Se conhecemos a Cristo e lhe entregamos nossos corações, isto é, nossos pensamentos, emoções, desejos e vontade, experimentaremos a transformação do egoísmo no amor que cancela a violência. Na medida em que deixamos que Cristo através da Bíblia se torne o centro de nosso espírito, o amor reinará em nossos corações e nós já não seremos geradores de atos de violência. Pelo contrário, nós vamos gerar atos pacíficos e construtivos em benefício dos outros, da família, igreja, sociedade e até mesmo de nossos inimigos (Mateus 5:44). Além disso, o amor vai nos dar paciência, resignação e força para suportar os atos violentos perpetrados contra nós. Não desejaremos vingança e confiaremos no Juízo Divino, que vai premiar cada um segundo suas obras (Sofonias 1:9, Romanos 2:6).


Finalmente, todos os leitores que sofrem opressão, abusos, terrorismo e guerra devem se lembrar de que Deus em sua providência tem o desejo e o poder de fortalecer, ajudar, proteger e até livrá-los da violência dos seus inimigos (Salmo 118:13, 2 Samuel 22:03, Salmo 18:3, 48).


Conclusão

Caro leitor, é Cristo quem pode nos libertar do pecado, do egoísmo e da violência, agora e por toda a eternidade. Se você colocar a sua fé Nele, você irá experimentar o arrependimento e a mudança de coração que irá transformá-lo em uma fonte de atos de amor e paz. Além disso, quando no caminho da vida encontrar a violência, pode ter certeza de que a promessa de Deus se cumprirá em sua vida, “Lança teu fardo sobre o Senhor, e Ele te susterá, jamais permitirá que o justo seja abalado” (Salmo 55: 22).


Artigo escrito por Fernando Canale (doutor em Teologia e professor na Universidade Andrews, em Berrien Springs, Michigan), publicado na revista El Centinela de Setembro/2010. Crédito da tradução: Blog Sétimo dia http://setimodia.wordpress.com/

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