30 de junho de 2008

Salmos de Davi

Recados para Orkut

Sou mansa

''Sou mansa,

entretanto, minha ânsia de viver é feroz''


Clarice Lispector


28 de junho de 2008

Coisas que a vida ensina depois dos 40. Artur da Távola


Amor não se implora, não se pede não se espera...
Amor se vive ou não.
Ciúmes é um sentimento inútil. Não torna ninguém fiel a você.
Animais são anjos disfarçados, mandados à terra por Deus para mostrar ao homem o que é fidelidade.
Crianças aprendem com aquilo que você faz, não com o que você diz.
As pessoas que falam dos outros pra você, vão falar de você para os outros.
Perdoar e esquecer nos torna mais jovens.
Água é um santo remédio.
Deus inventou o choro para o homem não explodir.
Ausência de regras é uma regra que depende do bom senso.
Não existe comida ruim, existe comida mal temperada.
A criatividade caminha junto com a falta de grana.
Ser autêntico é a melhor e única forma de agradar.
Amigos de verdade nunca te abandonam.
O carinho é a melhor arma contra o ódio.
As diferenças tornam a vida mais bonita e colorida.
Há poesia em toda a criação divina.
Deus é o maior poeta de todos os tempos.
A música é a sobremesa da vida.
Acreditar não faz de ninguém um tolo.
Tolo é quem mente.
Filhos são presentes raros.
De tudo, o que fica é o seu nome e as lembranças acerca de suas ações.
Obrigada, desculpa, por favor, são palavras mágicas, chaves que abrem portas para uma vida melhor
Amor... Ah, o amor...
O amor quebra barreiras, une facções, destrói preconceitos, cura doenças...
Não há vida decente sem amor!
E é certo, quem ama é muito amado.
E vive a vida mais alegremente...

Ginástica para emagrecer....






-Doutor, como eu faço para emagrecer?
- Basta você mover a cabeça da esquerda para a direita e da direita para a esquerda.
-Quantas vezes, doutor?
-Todas as vezes que lhe oferecerem guloseimas.

O caderno - Toquinho e Chico Buarque

HenrietteBrowneMeninaescrevendo

Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco até o bê-a-bá
Em todos os desenhos
Coloridos vou estar
A casa, a montanha,duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel

Sou eu que vou ser seu colega

Seus problemas ajudar a resolver

Te acompanhar nas provas bimestrais
Você vai ver

Serei de você confidente fiel
Se seu pranto molhar meu papel
,
Sou eu que vou ser seu amigo
Vou lhe dar abrigo
Se você quiser

Quando surgirem seus primeiros raios de mulher

A vida se abrirá num feroz carrossel

E você vai rasgar meu papel
O que está escrito em mim,
Comigo ficará guardado
Se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente

O que se há de fazer
Só peço a você um favor
Se puder
Não me esqueça
num canto qualquer

27 de junho de 2008

Que a comida seja teu remédio...... (Hipocrates - pai da Medicina)

Comer, ComerComer, Comer
Comer, Comer

Comer, Comer


« Que a comida,
seja o teu
remédio ...
e que
o teu remédio,
seja a tua comida ... »

Hipòcrates ( o pai da medicina )

25 de junho de 2008

AS MÃOS


As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.


Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.


E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.


De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967


24 de junho de 2008

Ausência


AUSÊNCIA

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência
é mais funda do que a tua.


Sophia de Mello Breyner Andresen

23 de junho de 2008

Perdoem


Composição: Ivan Lins/Vitor Martins




Perdoem a cara amarrada,

Perdoem a falta de abraço,

Perdoem a falta de espaço,

Os dias eram assim…



Perdoem por tantos perigos,

Perdoem a falta de abrigo,

Perdoem a falta de amigos,

Os dias eram assim…



Perdoem a falta de folhas,

Perdoem a falta de ar

Perdoem a falta de escolha,

Os dias eram assim…


E quando passarem a limpo,

E quando cortarem os laços,

E quando soltarem os cintos,


Façam a festa por mim…

E quando lavarem a mágoa,

E quando lavarem a alma

E quando lavarem a água,

Lavem os olhos por mim…



Quando brotarem as flores,

Quando crescerem as matas,

Quando colherem os frutos,

Digam o gosto pra mim…
.
Digam o gosto pra mim…


21 de junho de 2008

Ronnie e eu - 03 anos de companheirismo














O afeto que brota entre humanos e animais de estimação tranqüiliza a mente e enternece o coração. Afagar um animalzinho de estimação, em alguns casos, vale por um Prozac. Mas por que isso acontece? Para alguns especialistas, a razão é quase poética. "Os bichos de estimação nos colocam em contato com a natureza animal, uma dimensão elementar que a sociedade e nosso estilo de vida se empenham em suprimir", diz Marty Becker, médico veterinário, autor de O Poder Curativo dos Bichos. "Por meio de um relacionamento íntimo com nossos animais, despertamos em nós características poderosas como lealdade, amor, instinto e jovialidade." Becker, dono de nada menos que 15 bichos, entre cães, gatos, peixes e cavalos, conta que aprendeu com um de seus cachorros uma habilidade que os seres humanos tanto anseiam: a de viver plenamente o presente. "Quando caminhamos juntos, ele não fica pensando no que vai fazer no ano que vem ou como será quando voltarmos. Na verdade, ele nem pensa. Está fascinado demais pelo mundo diante de seu focinho."

Tenho um York, está completando hoje 03 anos. Ronnie me faz muito bem, alisar seu pelo macio, ou tê-lo por perto me relaxa. Sinto, e de fato sou responsável por ele. Ele confia em mim! Sua amizade e fidelidade me inspiram....Posso até dividar minha vida em dois períodos AR (antes do Ronnie) e DR (depois do Ronnie). Minha vida DR e muito mais tranquila, mais relaxada.
Obrigada Ronnie pelo seu carinho. Parabéns!


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O homem recebeu a tarefa de cuidar da Terra e dos animais. A Bíblia diz: “[Deus pôs] tudo debaixo de seus pés: gado miúdo e bois, todos eles, e também os animais da campina, as aves do céu e os peixes do mar.” — Salmo 8:6-8; 115:16.
Não se deve negligenciar essa responsabilidade. A Palavra de Deus diz: “O justo importa-se com a alma do seu animal doméstico.” (Provérbios 12:10) De fato, as leis de Deus a Israel enfatizavam repetidas vezes a necessidade de mostrar consideração pelos animais. (Deuteronômio 22:4, 10; 25:4)


20 de junho de 2008

BellezaPura - (2)


Doce, Doce, Doce... A Vida É Um Doce...


Música no Ar


Oh Happy Day

Love Is All There Is





19 de junho de 2008

Esquecer é ..... William Shakespeare



Lembrar é fácil para quem tem memória.
Esquecer é difícil para quem tem coração.

William Shakespeare

17 de junho de 2008

EU TE AMO


Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais…


Clarice Linspector

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AGORA LEIA DO ULTIMO VERSO ATÉ O PRIMEIRO. GENIAL....como com as mesmas palavras podemos negar e afirmar um sentimento.

16 de junho de 2008

Paz do Meu Amor


Paz do Meu Amor
Luiz Vieira
Composição: Luiz Vieira


Você é isso, uma beleza imensa

Toda recompensa

de um amor sem fim

Você é isso, uma nuvem calma,

no céu de minh'alma,

é ternura em mim,

Você é isso, estrela matutina,

luz que descortina

um mundo encantador.

Você é isso,

É parto de ternura,

lágrima que é pura,

paz do meu amor.


13 de junho de 2008

Reinvenção

Noite estrelada - Van Gogh

A vida só é possível reinventada.

Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada

pelas águas, pelas folhas…

Ah! tudo bolhas


que vem de fundas piscinas

de ilusionismo… - mais nada.



Mas a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.

Vem a lua, vem,


retira as algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços

cheios da tua Figura.



Tudo mentira!

Mentirada lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço…

Só - no tempo equilibrada,


desprendo-me do balanço

que além do tempo me leva.

Só - na treva, fico: recebida e dada.




Porque a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.


Cecília Meirelles

12 de junho de 2008

A luz do teu olhar - Vinicius de Moraes


Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p’ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

Ouvir Estrelas - 12/06 - Dia dos namorados





Ora(direis) ouvir estrelas!



"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...



E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.



Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"



E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
Olavo Bilac

11 de junho de 2008

Dialética


É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste…


Vinícius de Moraes

10 de junho de 2008

Ver-te, só ver-te; -












Ver-te, só ver-te; e sorver-te como um sorvete!”

Luis Fernando Verissimo

Um dia de Verão - Shakespeare


Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.
.
Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.
.
Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:
.
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
.


9 de junho de 2008

AMOR


Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

Paulo Leminski

O que veriam meus olhos em três dias - Hellen Keller



Muitas vezes tenho pensado quão benéfico seria, se cada ser humano fosse atingido pela cegueira e pela surdez, durante alguns dias somente, nos começos da vida adulta. Por contraste, o negrume da cegueira o faria apreciar melhor a visão; e o silêncio lhe ensinaria, certamente, as alegrias do som.
Uma vez por outra faço uma sondagem entre os meus amigos dotados de vista, afim de descobrir o que é que eles vêem. Recentemente perguntei a uma amiga, que acabava de voltar de uma longa caminhada pelos bosques, o que havia observado por lá: Nada de particular, replicou ela.
Como é possível — perguntei então a mim mesma — passear durante uma hora através do arvoredo, sem nada ver que seja digno de nota? Eu, que não possuo o dom da vista, descubro meramente através do tato centenas de coisas que me despertam interesse. Tateio a folha duma planta, e sinto a delicada simetria de suas nervuras. Acaricio amorosamente a branda pele dum vidoeiro prateado, ou a casca rugosa e áspera dum pinheiro...
Chegada a primavera, ando a apalpar os ramos das árvores na esperança de descobrir um rebento, primeiro sinal da natureza que desperta do longo sono do inverno. Ocasionalmente, se a sorte me favorece, ao pousar a mão de leve num arbusto, sinto-o vibrar de alegria ao gorjeio dum passarinho. Por vezes o coração chora-me no peito, com desejo de ver todas essas coisas que a cegueira me esconde. Se o simples contacto da mão me pode dar tanto prazer, quanta mais beleza a visão das coisas poderia revelar-me! E já me tenho abandonado a imaginar que é que eu mais gostaria de ver, se me fosse dado o uso dos olhos, digamos, por três dias somente.
Começaria eu por dividir em três fases esse período. No primeiro dia, gostaria de ver as pessoas cuja bondade têm tornado minha vida digna de ser vivida. Eu não faço idéia do que seja poder ver o coração duma pessoa amiga através do que chamam “as janelas da alma” — os olhos. Tudo que eu posso “ver” são os contornos duma face — através a polpa de meus dedos... sei distinguir o riso, a mágoa, e muitas outras emoções que o rosto humano reflete. Conheço meus amigos pelas sensações que me dão as suas faces...
Quanto mais fácil, e quanto mais satisfatório será para vós outros — que podeis ver — o aprender rapidamente as qualidades essenciais de outra pessoa, só com observar-lhes as sutilezas da expressão, o estremecimento de um músculo, o gesto rápido da mão! Mas já porventura vos ocorreu utilizar a vista para penetrar na natureza íntima dum amigo? Ou será que a maior parte das pessoas, ao verem os seus semelhantes, se limitam a colher de passagem os traços exteriores das fisionomias e se contentam com isso?
Por exemplo, será o leitor capaz de descrever com minúcias o rosto de cinco dos seus melhores amigos? Tenho perguntado a vários maridos qual a cor dos olhos das esposas, para receber em resposta expressões de embaraço e confissão de que não sabem !
Oh, quantas coisas eu havia de ver, se me fosse dado o dom da vista apenas por três dias!
O primeiro dia seria um dia pleno. Chamaria à minha presença todos os meus amigos queridos, e olharia demoradamente para os seus rostos, de modo a gravar na minha mente as evidências externas da beleza que mora dentro deles. Deixaria também repousar meus olhos na face dum bebê, para poder captar uma visão da beleza ávida e inocente, que precede a consciência individual dos conflitos provocados pela vida. Gostaria igualmente de ver os livros que me têm sido lidos, e que me têm revelado as correntezas mais profundas da alma humana. E gostaria de penetrar nos olhos leais e confiantes de meus cães: o meu cachorrinho escocês e o meu valoroso dinamarquês.
À tarde daria um grande passeio pelos bosques e embriagaria meus olhos com as belezas do mundo natural. E rogaria a Deus que me deixasse ver a glória dum ocaso deslumbrante de cor. Essa noite, acho que eu não seria capaz de dormir!
No dia seguinte levantar-me-ia com a primeira luz da aurora, para assistir ao milagre empolgante pelo qual a noite se transforma em dia. Cheia de reverente assombro, eu havia de presenciar o magnificente panorama de luz com que o sol desperta a tarde adormecida.
Esse dia, eu o consagraria a formar uma rápida visão do mundo, do passado como do presente. Gostaria de ver desfilar diante de meus olhos o cortejo do progresso humano, e para isso iria percorrer os museus, onde abraçaria com a vista a história condensada da Terra — as raças humanas e os animais representados no seu ambiente natural; as carcaças gigantescas de dinossauros e mastodontes que povoavam o globo antes de o homem haver aparecido com a sua minúscula estatura e o seu cérebro poderoso para dominar todo o reino animal.
Iria, depois, visitar os museus de arte. São-me bastante familiares, através do tato, as esculturas dos deuses e deusas da antiga terra do Nilo. Já toquei e percorri com meus dedos reproduções de frisos do Partenon, e senti sob eles a rítmica beleza dos guerreiros helênicos em combate... As feições de Homero, nodosas e ornadas de barbas, me são queridas, pois ele, como eu, era cego também.
Assim pois, nesse meu segundo dia, eu me esforçaria por penetrar na alma do homem através as suas obras de arte. Reconheceria assim, pela vista, os objetos que hoje conheço apenas pelo tatear de minhas mãos. E, coisa mais prodigiosa ainda, todo o mundo magnífico da pintura me ficaria aberto. Naturalmente, eu conseguiria apenas receber de tudo isso uma impressão superficial, porque — consoante me dizem os artistas — para apreciar a Arte com profundo e verdadeiro conhecimento, é preciso educar a vista; é indispensável aprender pela experiência a pesar os méritos da linha, da composição, da forma, da cor. Ah! Tivera eu olhos capazes de ver e com que fervor e afinco empreenderia tão fascinantes estudos!
A noite do meu segundo dia seria passada no teatro ou no cinema. Como eu gostaria de seguir com os olhos a silhueta fascinante de Hamlet, ou a rotundidade jovial de Falstaff entre os variegados parâmetros isabelinos! Não posso apreciar a beleza dos movimentos rítmicos, exceto na esfera muito restrita do toque de minhas mãos. Apenas vagamente posso visionar a graça duma Pavlova, conquanto eu saiba alguma coisa dos deleites do ritmo, pois com frequência posso adivinhar o compasso da música, quando o soalho traz até mim as suas vibrações. Posso perfeitamente imaginar como os movimentos cadenciados devem ser uma das coisas mais agradáveis de contemplar no mundo! Foi-me possível apreender isso, seguindo com meus dedos as linhas dos mármores esculpidos; se a graça das figuras estáticas pode ser tão adorável, quanto mais agudo não será o prazer, a emoção de vê-las em movimento!
Na manhã seguinte, levantar-me-ia cedo, mais uma vez, para saudar o raiar da aurora, ansiosa de descobrir novos prazeres, novas relações de beleza. Este dia, o terceiro da minha incursão no mundo das imagens, eu iria passá-lo entre os que trabalham, entre os homens e mulheres incessantemente absorvidos nas mil ocupações da vida humana. A grande cidade é hoje o meu destino.
Fico, primeiro, de pé a uma esquina das mais movimentadas, limitando-me a olhar a gente que passa, tentando compreender na sua aparência alguma coisa das suas vidas cotidianas. Vejo sorrisos, e isso me torna feliz. Vejo firme decisão, seriedade — e isso me dá orgulho. Vejo, noutros rostos, pintado o sofrimento, o que me inspira compaixão.
Desço com o meu vagar uma grande avenida central. Deixo errar meus olhos a esmo, sem fixar em nada, para não ver nada em especial, mas apenas um fervilhante caleidoscópio de cor. Tenho certeza que as cores dos vestidos das mulheres, passando em torrente nas ruas, devem constituir um espetáculo de beleza de que eu não havia de me fatigar facilmente. Mas talvez que, se gozasse da vista, eu fosse como a maior parte das outras mulheres — demasiado interessada em modas e estilos, para poder prestar atenção ao esplendor do colorido desfilando em massa!
Dessa grande avenida eu partiria a dar uma volta pela cidade — a ver os seus bairros de miséria, as fábricas, os parques onde as crianças brincam. Faria, sem sair do meu país, uma viagem ao estrangeiro, visitando os bairros onde vivem aglomerados os imigrantes de outras terras. Iria de olhos sempre bem abertos para todas as visões de felicidade e miséria, de modo a poder penetrar bem fundo e colher elementos para adicionar à minha compreensão dos hábitos de vida e de trabalho do mundo.
Meu terceiro dia de férias no mundo da visão vai-se acercando já do termo... Existem talvez muitos outros aspectos sérios da vida, aos quais eu deveria consagrar as poucas horas de vista que me restam, mais creio que esta noite — por ser a do último dia! — voltarei a correr ao teatro, para ver alguma peça hilariante, que me permita apreciar as ressonâncias harmônicas da comédia no espírito humano.
À meia-noite as trevas da cegueira voltariam a envolver-me... É natural que durante esses três dias eu não tivesse visto tudo quanto desejaria ver. E só quando a escuridão voltasse a descer sobre meu mundo, é que eu compreenderia quanta coisa me ficara por ver!
Talvez este breve programa não coincida com o plano que o leitor, dotado de vista, traçaria para si próprio, se soubesse que estava em vésperas de ser ferido de cegueira irremediável. Estou certa, contudo, de que se ele encarasse semelhante fatalidade, saberia fazer de seus olhos um uso tal como nunca dantes fez. Tudo aquilo que visse se lhe tornaria querido. Seus olhos roçariam e envolveriam amorosamente quanta coisa caísse dentro do seu campo de visão. Depois, por fim, aprenderia a ver realmente, e um novo mundo, um mundo de beleza, se lhe desdobraria diante dos olhos.
Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que vêem: façam uso dos olhos como se amanhã a cegueira os esperasse. E o mesmo se pode aplicar aos outros sentidos. Escutem a música das vozes, a canção das aves, os acordes poderosos duma orquestra — como se amanhã a surdez os ameaçasse. Toquem cada objeto como se amanhã fossem perder o sentido do tato. Aspirem o aroma das flores, saboreiem com delícia cada bocado, como se amanhã fossem deixar para sempre de cheirar e saborear... Tirem o máximo proveito de cada um dos sentidos!
Rejubilem em todas as facetas do prazer e da beleza que o mundo lhes revela, através dos vários meios de contacto concedidos ao homem pela natureza. Mas de todos os sentidos, estou certa que a vista deve ser o mais grato de deleitoso.

Hellen Keller tinha menos de 2 anos de idade quando ficou cega devido a uma febre intensa. Pouco tempo depois, perdeu também a audição.


Seleções do Reader`s Digest. The Atlantic Monthly

Sete contra um


Como será que terminou essa história?
Onde aconteceu o fato?
Quem fez a foto?
Não sei, não sei, essa imagem foi copiada do site Diario de Um juiz.

7 de junho de 2008

Ao Amor Antigo


Ao Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.


O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.


Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.


Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.


Carlos Drummond de Andrade

6 de junho de 2008

Poema - As sem-razões do amor









As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo.

Não precisas ser amante,

e nem sempre sabe sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça

e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,

é semeado no vento,

na cachoeira, no eclipse.

Amor foge a dicionários

e a regulamentos vários.

Eu te amo porque te amo

bastante ou demais a mim.


Porque amor não se troca,

não se conjuga nem se ama.

Porque amor é amor a nada,

feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte,

e da morte vencedor,

por mais que o matem (e matam)

a cada instante de amor.



Carlos Drummond de Andrade

5 de junho de 2008

"Competência e sensibilidade solidária – educar para a esperança"



Esperança só é esperança quando não se funda em certezas. Quando há bases seguras, "científicas", para as nossas projecções desejantes, temos otimismo. Esperança é quando nós esperamos apesar das nossas incertezas, apesar das actuais condições humanas e sociais que não nos dão garantia da possibilidade de realização dos nossos desejos. Alguém é optimista por causa de, enquanto que nós temos esperança apesar de.»

Hugo Assman e Jung Mo Sung, "Competência e sensibilidade solidária – educar para a esperança"

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Essencialíssima é a menção feita a Gandhi, sobre saber viver e conviver. Seu neto Arun Gandhi conta: "Para Gandhi quem não sabe conviver também nunca saberá qual é a sua própria filosofia da vida. Contou-me várias vezes a história de um colega, brilhante nos estudos, sempre com as notas mais altas. Passou em tudo com distinção, arranjou logo um bom emprego. Só que nunca achou tempo para aprender a viver. Não soube conviver com sua mulher, nem com seus filhos, nem com ninguém. Acabou amargurado e na miséria. Saber viver e conviver - dizia ele - é o que mais se precisa aprender".
Compreender que só saberemos quem somos se tivermos sido amados. Envolver a análise da dimensão profunda dos nossos desejos. Tudo é tão essencial, que se torna impossível, perigoso e até inconveniente dizer onde está o principal horizonte indicado. A proposta iluminada é, sem dúvida, educar para a esperança.