Quando criança morava em uma pequena cidade do interior Pernambucano, meus avós criavam patos num pequeno quintal, na verdade os patos passavam o dia a nadar no açude da Penha que ficava a uns 500m da nossa casa (Sim, é o açude mencionado por Graciliano Ramos em seu livro Angustia, Graciliano afirma que lá não tinha patos, só sapos; no meu tempo tinha patos e não tinha sapos). Logo de manhã davamos milho para os barulhentos e abriamos o portão, eles saiam em fila indiana, atravessavam a rua e tchibum no açude... final da tarde, como que instados por uma voz inaudível para os humanos, mas perfeitamente comprensível para patos, eles se reuniam e voltavam, em fila indiana, para casa. O açude era cercado pou uma contenção de pedras de quase um metro de altura por meio metro de largura, e creio que tinha uns quinze ou vinte metros de extensão.Eu ia frequentemente sentar-me nessa mureta tomar sol, contemplar os patos e pensar sobre a vida....
Mas o que desencadeou essas lembranças adormecidas? Ah , Confit de Canart!!! Servido por Nathaly L'Amour, num jantar familiar; o tal prato, no dia seguinte, foi apresentado, comentado e comido nos programas da Ana Maria Braga e do Video Show.
Ai, ai, a minha Avó que nasceu no ano de 1890 nunca falou francês, mas tinha a sabedoria popular, preparava patos , pernil de porco, e conservava-os na própria gordura e ou banha de porco, haja vista que ainda não havia eletricidade lá na cidadezinha.E nos ensinava: guardado assim banha dura meses. Na hora de servir, não era servido em porções individuais, mas em uma grande terrina guarnecida com folhas de alface e batatas doce fritas. Uma delicia.
É isso aí! Sou chic desde criancinha, alimentada com Confit de Canart embora a anfitriã informasse : "Hoje teremos pato assado".
PS. Estou digitando e ouvindo televisão, fiquei sabendo que hoje à noite vai ter especial com Jacson do Pandeiro .Voltei no tempo e, novamente me lembrei do Açude da Penha, o Açougue Municipal ficava bem em frente do Açude da Penha, era um predio alto e nele estava montada a unica boca de autofalante da Rádio Difusora, onde eram noticiados os óbitos, as chegadas e partidas, executava-se musicas de Jacson do Pandeiro, Marinês e sua Gente, entre outros, támbem era anunciada a programação cultural da cidade. Foi ali que ouvi a seguinte publicidade: " Não percam, hoje, a apresentação do filme O fantasma da o- pe-ra. ", e logo após uma voz sussurando: ópera, ópera
- Como?
- Ópera, ópera.
E depois, em alto e bom som : "Não percam, hoje, O Fantasma da Ópera, ópera!"
Eu tinha dez anos....