15 de agosto de 2009




O silêncio das Coisas me comove;

Sinto-o, principalmente quando chove.

Que sonolência enerva as almas... Que apatia...
Que saudade da vida e da alegria!

Que saudade de tudo que ama e existe!
Como me encanta a natureza triste!

Olho através dos vidros da janela:
A paisagem desfaz-se em folhas amarelas...

Ver árvores é um grande lenitivo
Para a estesia de um contemplativo.

Ver árvores é ouvir sentidas trovas,
Vossas cantigas, raparigas novas!

Que lindo verde, em nuanças meio incertas,
Margeando, lado a lado, as estradas desertas!

As árvores dos parques e das praças
Bebem silêncio pelas folhas que são taças...

Só parece que a sombra em redor se avoluma
E cresce e desenrola o amplo manto de bruma.

É tudo calma. Em torno à minha casa
Não se escuta sequer um ruflo de asa.

Somente a água que vem da montanha, sonora,
Canta tão triste que não canta, chora.

E some-se, rezando a estranha reza
Da livre religião da natureza,

Ave, Sombra! Eu venero a tua imagem
E amo o silêncio verde da paisagem!...



Olegário Marianno
Toda uma Vida de Poesia
(1889-1958- Recife)

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