20 de novembro de 2008

" Acreditar nas fadas" - JJ Benitez



"...A modernidade, querida menina, é
um objetivo desejável e recomendável. Mas, olho vivo!, conquanto não "espante
nem degrede as fadas". Ou melhor: o progresso e o avanço material devem
respeitar e estimular a fé no invisível (?), no impossível (?) e no fantástico
(?). É isso que chamo de "acreditar em fadas". Por quê? Por que é necessário "
acreditar nas fadas"? A resposta está na Suécia. Vou lhe contar o que vi.
Depois, você tire conclusões. Para a gente do CLUBE, este é um país belo,
próspero... e triste. Uma nação na vanguarda da arte de ter e carecer. Estou
indo embora desolado porque, mesmo sendo uma sociedade "espelho", eles vivem --
eu acho -- com os vidros do coração embaçados. De tanto esterilizar o exterior,
mataram o interior. Eles têm tudo e não tem nada. É um território vazio de fora
(vinte habitantes por quilômetro quadrado) e vazio por dentro (um dos maiores
índices de suicídios do planeta). Têm ferro, mas são assustadiços. Têm aço, mas
são frágeis. Têm madeira, mas são de plástico. Têm energia elétrica, mas não
sabem da "força motriz" dos sentimentos. Têm segurança, mas são inseguros. Têm
um automóvel para cada dois cidadãos, mas viajam pelas vizinhanças da
imaginação. Têm um telefone para cada duas pessoas, mas não sabem o "número" do
coração. Têm um televisor para duas almas, mas não vêem. Apenas "olham". Têm
longa vida (média de quase oitenta anos), mas a consomem nas filas do álcool, da
indiferença e da depressão. Têm dinheiro (renda anual PER CAPITA de quase dez
mil dólares), mas não têm crianças. Têm igualdade e liberdade, mas continuam a
"proibir a entrada" de Deus. Têm uma bela Natureza, mas as "fadas" fugiram dela.
Este é o panorama. Eis o problema: Um mundo exemplar material, embora
desamparado no espiritual. Um mundo que esqueceu as outras infinitas
"realidades". Que não "acredita nas fadas". Como você vê, "acreditar nas fadas"
é e não é um jeito de falar. Em cartas anteriores, querida menina, me referi aos
que têm (temos) fé. E também aos felizardos do CLUBE. Mas o que seguramente não
completei são as vantagens que acarreta a prática deste fascinante fenômeno da
fé. Ou sim? Tanto faz. Eu lhe garanto que, quanto a isso, não me importo em cair
na repetição. "Acreditar nas fadas" -- isto é, no invisível -- tem a vantagem de
viver (voar) com quatro motores. Se falharem a razão e a lógica ainda restam os
mais vigorosos: os motores do "Deus dirá". Uma sociedade materialista, por sua
vez, vive (não voa) precária e perigosamente. Como você sabe, razão e lógica são
"gafanhotos". "Acreditar nas fadas" proporciona o indescritível prazer da "queda
livre". Já o estilo sueco é um boi de pára-quedas. "Acreditar nas fadas" são
cinco semanas de balão. Já o pragmatismo, frio e desértico, é uma ao centro da
Terra. "Acreditar nas fadas" é um desembarque contínuo em outras margens. Um
mundo que despreza a fantasia, ao contrário, é um mundo de lagostas. Vivem no
mar e não sabem que o mar tem praias. "Acreditar nas fadas" é estar "ligado" na
"rede" de Deus. o olhar acende. Já um homem sem fé é uma rede sem ligar e
vivendo com duas velas. "Acreditar nas fadas" é planar na asa-delta do
impossível. E voa! Negar os outros mundos, ao contrário, é limitar-se a olhar
(invejar) do chão do ceticismo. "Acreditar nas fadas" é ser SPRINTER e
alpinista. O progresso no estilo sueco, por sua vez, deve resignar-se ao papel
gregário. "Acreditar nas fadas" é saber que o que é acima é embaixo. Já a
ausência de espiritualidade sabe só do "embaixo". "Acreditar nas fadas" é
admitir que a gente é e não é Deus. Já para os filósofos da indiferença, a gente
é e não é. "Acreditar nas fadas" é descer à força do pulmão nas fossas nasais
das Marianas. Para o rigor científico, órfão de imaginação, as fadas são um poço
onde caem os débeis mentais. "Acreditar nas fadas" é maravilhar-se diante de uma
criatura, a quatro mil metros e com "anticongelante". Para a ciência descarnada,
por sua vez, essa criatura é apenas um percevejo do Mauna Loa (Hawai).
"Acreditar nas fadas" permite ascender com as "térmicas" do espírito. Já uma
sociedade sem alma aproveita essas correntes sobre a carniça. "Acreditar nas
fadas" é navegar sem colete salva-vidas. Já a imagem sueca é a de uma freira com
bóia flutuante. ... "Acreditar nas fadas" é entrar no reino da morte e sair
sorrindo. Jáos ateus sequer sabem do que estou falando. ... "Acreditar nas
fadas", enfim, como se vê, é muito mais que acreditar em fadas. "Acreditar nas
fadas" é pendurar -- mais uma vez -- uma "gaiola de pássaros" no seu coração.
"Acreditar nas fadas" querida menina, não é outra coisa que seguir a lei
natural. Diga-me: a noite não acredita no alvorecer? O amor não acredita no
beijo? Não acredita a dúvida no "sim" e no "não"? Não acredita a linha no anzol?
Não acredita Van Gogh na cor? Não acredita o azul no violeta? Não acredita a
vida na morte? Não acredita a morte na vida? Não acredita a gaivota no mastro?
>br> Não acredita a água no H2O? Não acredita a idéia na palavra? Não
acredita a vela no vento? Não acredita a vigília no sono? Não acredita Ivan, seu
irmão, na fotografia? Não acredita eu em você e você em mim? Receba um milhão de
beijos, minha querida "fada". e dê lembranças a minha avó, a "contrabandista",
sua "fada protetora".




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