26 de abril de 2008

Nação Cajueira - Marconi Barros


Solo de areia,

Pouca chuva

E muito sol

Paciência

Danças apiárias

E o Nordeste se revela

Abastado

Tingido de amarelo

E vermelho

Cajus púrpura

Prestam-se ao olhar

O travo

A poesia

O mercador

Já os dourados

São doces, tenros

E difíceis de embalar

Convidam besouros, abelhas, pássaros

E meninos

Que se proponham a os segar

Em nosso quintal de subúrbio

TivePor minhas mãos plantados

Três cajueiros

Que na terceira carga

Maravilharam-me por demais

Cabeças-vermelhas já não havia

Nem na feira dos passarinhos

Mas cinco bandos deles

Em dúzias divididos

Revezavam-se nos frutos do meu labor

E me fizeram menos pobre

Privando com os sessenta cardeais

E as inumeráveis abelhas

Que zumbiam cedo, após o canto dos galos

Ciente das nossas possibilidades

O mundo é uma fruteira

Pelo trabalho árduo revelada

Infância nordestina

Era de passarinho

Adolescência, também

Minha vida vem sendo

De plantador de caju

Enterrando castanhas

Regando-as

No aguardo de milagres

Uma vez mais

Revelados.

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